sábado, 13 de março de 2010

O Islã está entrando nas quebradas

O Islã ganha terreno no Brasil. Esta é a manchete da extensa reportagem publicada pelo diário francês Le Figaro sobre o aumento do número de muçulmanos nas periferias dos grandes centros urbanos do Brasil. A curiosidade sobre a religião depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e o sucesso da telenovela ‘O Clone’, que mostrou um herói muçulmano romântico, que respeitava e cobria de ouro sua mulher, foram apontados como fatores que ajudaram a multiplicar a conversão de vários brasileiros à religião islâmica.

A correspondente de Le Figaro visitou o Centro de Divulgação do Islã em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, onde conversou com Rosângela, uma mulher negra de 45 anos, ex-católica, que disse ser obrigada a distribuir cópias do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, em espanhol porque a edição em português está esgotada. Em entrevista ao jornal, o professor da Universidade Fluminense, Paulo da Rocha Pinto, estima que há cerca de 1 milhão de fiéis no país. O número não é preciso porque no censo brasileiro a religião é classificada como "outras". Ele lembra que os primeiros muçulmanos que chegaram ao Brasil foram escravos africanos. Várias revoltas na época teriam propagado uma desconfiança em relação à religião. O jornal francês lembra que apesar da imigração muçulmana de libaneses, sírios e palestinos no século 20, a primeira mesquita no Brasil só foi inaugurada em 1960. Segundo Le Figaro, a motivação das pessoas que buscam o Islã no Brasil é diferente das que procuram as igrejas evangélicas. Elas descobrem uma religião mais aberta ao mundo, dizem os especialistas. Eles observam ainda que a mensagem de igualdade racial e de justiça pregada pelo Islã é um sucesso entre as comunidades mais pobres, principalmente entre os jovens vítimas do racismo e da violência policial.
(Por Elcio Ramalho, para a RFI - Rádio France Internationale em português).

Obs do BLOG: O Islã viabiliza o acesso dos jovens de periferia à cultura, pois para ser um muçulmano o indivíduo necessita estar em constante estudo não apenas da religião, mas da língua árabe, por exemplo, entre outras disciplinas.
Para estes jovens pertencentes às classes populares (hoje emergentes),é uma maneira de adquirir informação e se sentir inserido num contexto social, que não o obriga a cortar laços ou contatos com pessoas que não façam parte da religião.
O veículo que mais aproxima o Islã destes jovens é o rap, já que temos vários representantes convertidos, como norte-americano Mos Def, por exemplo, e recentemente o rapper Scarface.

DiFunção lançou seu álbum de estréia pela gravadora Cosa Nostra do Racionais, teve destaque no cenário do rap nacional com a música "Neno", hoje prepara seu próximo disco.

Aqui no Brasil temos o exemplo do DiFunção, rapper que hoje mora numa comunidade islâmica, é articulador do NDIB - Núcleo de Desenvolvimento Islâmico Brasileiro - e foi responsável pela vinda do Fred Hampton Jr ao Brasil em 2008.
Fred Hampton Jr. visitando o Festival Hutuz 2008, no Rio de Janeiro.

Fred Hampton Jr. é filho do líder dos Panteras Negras – organização criada nos anos 60, nos Estados Unidos, que defendia teses como o pagamento de compensação aos negros pela escravidão. Hampton, assim como o pai, passou vários anos preso nos EUA, e dentro da cadeia fundou o POCC (Prisioners of Conscience Committee, em português: o Comitê dos Prisioneiros de Consciência), que defende a idéia de que os detentos são presos políticos, já que a grande massa carcerária é resultado do descaso do ESTADO.

Em 2008, ajudei o DiFunção a articular todo o roteiro do ativista no Brasil.

Com uma abordagem e uma política de resultados muito mais palpáveis do que os ensinamentos evangélicos (febre religiosa em presídios e quebradas) ou católicos, o Islã cresce no Brasil e prepara a autoestima destes jovens, atrelando a evolução do indivídio ao desenvolvimento de uma consciência da responsabilidade pela situação politico-social do país.

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